LEMBRANÇAS DA FÁBRICA DE MORTE. "MENGELE DIZIA QUEM IA PRA ESQUERDA E QUEM IA PRA DIREITA."
Frieda Tenenbaum, 80 anos; Chegamos em Auschwitz em Julho de 1944, pulamos do vagão de bois e fomos imediatamente levados sem selecção. Por quê? Eu não sei. Talvez disseram ao comandante que todos nós estávamos em estado bom para trabalhar. Existe muitas perguntas que não sei a resposta, como por exemplo; por que cortavam os cabelos das mulheres , mas o meu e a minha mãe não? Por que não recebemos uniforme de presos listrados? Eu não sei.
Depois de tomar banho nos mandaram para uma imensa montanha de roupas e nós poderíamos escolher uma . Meus olhos foram direto para um vestido de cor azul-marinho com bolinhas branca. Eu me decidi na hora: quero esse vestido. Minha mãe me apressava a escolher alguma coisa para me aquecer pois não tínhamos muito tempo. "Rápido, rápido , rapido" Dizia ela a todo momento. Ela cedeu e eu fiquei com o vestido até o outono.
Ninguém no nosso campo vestia um uniforme listrado. Eu acredito que era um campo temporário de onde depois seríamos seleccionados. Mas primeiro ficamos lá por meses. Nós simplesmente ficamos lá, famintos, com frio, nosso sapatos se desfaziam aos poucos por causa da lama. Pela manhã ficamos em pé para ser contados , durante a horas. A noite a mesma procissão. Nao deveríamos trabalhar, minha mãe também não. O que fazíamos durante o dia ? Devo confessar que não sei mais, só sei que passamos muita fome.
Um dia nossa barraca foi evacuada. Nós levaram então para um campo só para mulheres. Lá nos colocaram em sala enorme, onde tínhamos que nos despir e ficar em fila. Chegaram homens da SS: Mengele e outros mais. Ele dizia quem ia pra esquerda e quem ia pra direita. Quando chegou minha vez ele me mandou pra esquerda. Depois de mim vinha mãe e ela foi mandada para a direita. "Não " disse ela, " eu quero ir com ela" e ela apontou para me. Eles a puxaram e lhe bateram , mas minha mãe era teimosa até que eles cederam e a deixaram ela vim até mim.
Assim que me encontrava em grupo, todos nús, a maioria mais velhos que minha mãe, mas também alguma crianças dentre elas Renia minha prima. E ficamos lá em pé durante muito tempo até chegar a noite . Do lado esquerdo eu podia ver essa porta de metal com olho mágico . Eu tenho uma vaga suspeita que aquilo era a câmera de gás.
Quando ficou escuro veio a ordem de irmos e pegar nossa roupa. Nós levaram a outra barraca mais estável do que a outra. Na entrada nos esperava uma grande caldeira com sopa. Isso foi maravilhoso, estávamos morrendo de fome. Nós não tínhamos a mínima ideia do que estava acontecendo. E não sei até hoje. Tentamos depois calcular os dados, talvez tenha sido a época da revolta no crematório quando algumas pessoas da força - tarefa colocaram fogo no crematório para tentar frear a máquina da morte. Isso pode ter sido a razão do nosso salvamento.
Mas o perigo não tinha passado. Agora estávamos na barraca 25, a porta de entrada para a câmera de gás, assim dizendo. Mas até ali eu tive sorte: uma mulher se dirigiu a minha mãe. Ela me viu com minha prima e perguntou a minha mãe : "você quer salvar essa criança?" Ela nos pegou pela mão e nós levou para uma barraca cheia de crianças e nós disseram que ali era a barraca dos gémeos de Mengele.
Claro que tínhamos medo, por primeira vez sem nossas mães. Mas finalmente estávamos em um lugar melhor do estávamos antes. Logo Percebemos que algumas crianças sumiam e quando voltavam estavam todas emfachadas e perturbadas. Sim, era a barraca dos gémeos. Não tinha nem ideia porque aquela mulher nos pegou , pois não éramos gémeas. Mas nunca fomos levadas para experimentos.
Tentamos nos comunicar com outras crianças , mas elas vinham de outras partes da Europa e muitas não queriam falar. Ninguém queria falar dos experimentos. Na nossa barraca era mais ou menos umas 40 crianças . Nós nos viamos todos os dias e brincávamos e cantavamos músicas alemã.
Matéria especial da revista Spiegel sobre os 70 anos da libertação de Auschwitz. Traduzida por mim.
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