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domingo, 29 de março de 2015

A mulher que convenceu a capacho da SS que a levasse para Auschwitz porque ela não queria deixar sua mãe sorzinha.




EM 1943 , ERNA KORN, NAQUELA ÉPOCA COM 19 ANOS, CONVENCEU UM CAPACHO DOS NAZISTA QUE A DEPORTASSE PARA AUSCHWITZ. ELA NÃO QUERIA DEIXAR SUA MÃE SORZINHA. HOJE ELA DIZ:" NÃO ME ARREPENDO DISSO. NUNCA! EU NÃO NUNCA PODERIA SER FELIZ SE EU TIVESSE DEIXADO MINHA MÃE IR SORZINHA".

Emsland, 4 de janeiro de 2015. Erna Korn , hoje com 91 anos, vive em uma casa de tijolo, na estante foto da família e dos seis netos. Em 1943 , naquela época com 19 anos , ela convenceu a um capacho que a deportasse para Auschwitz. O que você queria em Auschwitz ? 

Eu não queria deixar minha mãe sorzinha. Isso era tudo. Meu pai já tinha morrido em 1933 e eu era a única filha. Minha mãe dizia que nós estávamos sob a proteção do meu pai, pois ele não era judeu. Para estar mais perto dela , eu parei meus estudos em Colônia e voltei para Kaiserslautern. 

Eu trabalhava em uma fundição , um dia um vizinho veio até ao meu trabalho e me disse que um homem uniformizado estava na minha casa. Quando cheguei em casa, eu escutei no cômodo ao lado uma conversa sobre deportação. Eu peguei minha mala ele me disse:" você não , só sua mãe ". Mas eu queria está com minha mãe de todo jeito, pois eu achava que nós poderíamos ajudar uma a outra. 

Eu pensei : em dois ou três meses eu serei deportada também, talvez até antes. Então eu disse; " por favor senhor, me deixe ir com minha mãe ." Ele disse;" não , não , não tem como!" No último momento ele disse; " entra, mas somente até Saarbrücken!"

Durante toda a viajem eu tentei convecer-lo. Minha mãe estava sentada do meu lado e se desfazia em lágrimas. Ela disse;" para com isso, para com isso, você sabe que a cada mês em casa pode crucial para te salvar a vida". Quando chegamos em Saarbrücken , na entrada da cadeia, oficial disse;" aqui estar o ofício de internação para mãe e para filha eu trago amanhã. " Eu podia ficar com minha mãe, ela ficou espantada. 

No outro dia eu fui chamada por um senhor chamado Zöller. Ele me perguntou; "você quer ir com sua mãe? " Eu respondi que sim . Ele disse;" Sua mãe será mandada para Auschwitz ". Aquilo foi muito duro para mim. Eu sabia muito bem o que Auschwitz significava. Eu já tinha escutado, em segredo, pela BBC sobre transporte de seres humanos em vagão de gado, das mortes, de tiros na rampa. Ele me pergunta outra vez; " E então, você quer mesmo ir com sua mãe?" Eu disse;" a onde minha mãe for, eu quero ir também." Ele me diz; " você seria um má menina, se não fizesse isso". Que sínico! Ele sabia muito bem que aquilo seria nosso fim, seria nossa morte!

Chegamos em Auschwitz, e formos fazer as tatuagens. De alguma maneira eu teria que ter ido antes da minha mãe, talvez por causa do primeiro nome dela , Jeanette Korn, com J e não com E. Então eu peguei o número dela, 50462, e ela o meu. Hoje eu já nem vejo mais esses números. É como se você tivesse uma cicatriz. Teve gente que removeram. Eu não consigo entender isso. Isso não é uma desonra para mim, é uma desonra para aqueles que nos tatuaram. 

Chegou o dia da seleção. Isso significava que um médico vinha e dizia quem tinha capacidade de trabalhar e quem não. Eu tinha alguns pontos purulentos nas duas pernas. Tínhamos que passar só de calção , de cabeça erguida, em fila , diante do médico. Minha mãe andou 10 ou 15 metros a minha frente e ela não percebeu que eu fui retirada da fila. Quando ela se virou, eu tinha sido levada para o bloco 24, o bloco da morte. 

Nós já não recebíamos nada para comer, já não podíamos ir a latrina (privada) ; nós já sabíamos que no próximo dia seríamos levados para câmara de gás. Ser morto é totalmente diferente de morrer . As mulheres se arrancavam os cabelos, quando tinham, ou se arranhavam. Eu comecei a rezar;" eu só queria viver, mas você quiser meu senhor!" Enquanto eu viver, eu queria ver o sol mais uma vez. Então ele apareceu sobre o bloco vizinho. 

Eu já estava consolada. Nós estávamos nús. As mulheres foram agredidas até o carro. Ai eu escuto quando alguém chama meu número! O homem da SS compara meu número com o da folha. Ele abre a porta do bloco e me empurra para dentro e diz;" tu tem mais sorte do que juízo".

Como "mestiça de primeiro grau" eu podia trabalhar em Ravensbrück para exército na fabricação de telefones e microfones , na Siemens. 

Mas eu queria me despedir da minha mãe. Ela ficou feliz por eu ter saído de Auschwitz. Nós nos encontramos no meio da rua do campo de concentração. Ela estava tão fraquinha e desnutrida. Nós nos despedimos com a certeza que nunca mais nos veríamos outra vez. Como podíamos fazer isso? Com certeza, não com um " até logo" . Eu não me lembro de nenhuma palavra. Somente chorávamos. Nós nos abraçamos e nos beijamos. E por ultimo ela me disse;" você vai sobreviver e vai dizer tudo o que fizeram conosco aqui". No dia 8 de novembro minha mãe foi morta. 

Quase todo dia tem alguma coisa que me faz lembrar de Auschwitz. Como por exemplo, quando alguém joga fora um pedaço de pão, eu não consigo suportar isso. 

Eu não tenho ódio. Quando alguém tem ódio no coração, ela está se auto destruindo. Eu amo a vida, viver um presente. 

Naquela época eu fui voluntariamente-obrigada a ir a Auschwitz. Eu não me arrependo. Nunca! Eu não poderia ser feliz se tivesse deixado minha mãe sorzinha. 

*Matéria especial da revista Spiegel sobre os 70 anos de libertação de Auschwitz. Traduzida por mim. Espero gostem. Um grande abraço. Darlen Rodrigues.

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