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sexta-feira, 27 de março de 2015

" Por causa de Mengele eu me tornei uma assassina de crianças ".




"SOMENTE DEUS E O DOUTOR MENGELE SABEM. "
A EXPERIÊNCIA DE UMA MÃE JUDIA COM O MÉDICO CIENTISTA DO CENTRO DE CONCENTRAÇÃO (KZ) DE AUSCHWITZ. *Matéria da revista Spiegel de 05.08.1964 traduzida por mim. 

Quando Ruth Iliav de 41 anos escuta falar sobre o nome de Josef Mengele no processo de Auschwitz em Frankfurt , ela sente um esgotamento nervoso. Ela é natural de Mährisch-Ostrau e hoje vive em Tel Aviv. No caminho ao centro de concentração de Theresienstadt, Auschwitz , Ravensbrück, e Buchenwald ela perdeu seus pais , irmãos e também seu bebé recém nascido. Ainda chocada ela escreve sobre experiência com o Dr. Mengele em três páginas e meia de uma carta. 
***

KZ-Thesienstadt, Dezembro de 1943. O temido ticket de tranporte chega até mim. Para piorar eu descobro que estou grávida. Não tem nenhum médico que possa me ajudar. Nós partimos de Theresienstadt em direcção a Auschwitz, uma viajem de três dias, presa em vagões que eram usados para o transporte de gado. Nós fomos descarregados como gados, caçados como gado, vigiados pelo pessoal da SS com cachorros. Nós fomos "limpados". Nús, sem nada de roupa! Cabeça raspada! Nós fomos marcados com números como gados! 

Era jovem e aguentava, mas todos as manhãs uma grande quantidade de cadáveres eram retirados. Nós viamos as câmera de gás a nossa frente, todos os dias sentíamos o cheiro de carne queimada que vinha do crematório. E a nova vida se movia dentro de mim. 

Maio de 1944 

Diziam que a Alemanha estava sendo borbardeada e necessitavam de mao de obra para os trabalhos de limpeza. 
Um dia inteiro de selecção. Pessoas jovens seriam enviadas a Alemanha. Eu estava no sétimo mês. As pessoas me diziam que mulheres grávidas eram enviadas a câmera de gás. Eu só tinha 20 anos e queria muito viver. 

Meus amigos conseguiram colocar meu número na lista de transporte. Nós os trabalhadores, estávamos magros e famintos , fomos levados para um acampamento para mulheres. 

No acampamento para mulheres passamos por uma nova selecção e dessa vez o dr. Mengele estaria pessoalmente lá . 

Nós tivemos que marchar nús, um atrás o outro e passar por perto do dr. Mengele. Algumas mulheres tentaram me colocar no meio delas para tentar lhe despistar. Se aproxima nossa vez. Será que conseguiremos?
Dr. Mengele não me viu. Poderei viver? E a nova vida continua se mexendo dentro de mim.

Depois de três dias chegamos a nosso destino, Hamburgo. A limpar entulhos . 

A noite caímos de tão cansados. Antes de amanhecer vinha um médico da SS examinar se tinha algum enfermo. "Ninguém doente, somente duas mulheres grávidas." Diz um deles. O médico nos detém na hora e nós manda aos comando da SS. Nós deram provisões para viajem e deixamos Hamburg. Destino desconhecido. Partimos! Próxima estação Ravensbrück. 

Nós ficamos lá somente 4 dias, porque nosso número não pertencia a Ravensbrück. Acompanhada de uma vigilante da SS, fomos transportada novamente. Na estação de trem ela autênticou as passagens e nesse momento escutamos a palavra Auschwitz. 

Para que a vigilante não nos entendesse, falávamos em tcheco. Nós decidimos que no banheiro tirariamos a estrela que nos identificavarmos como judías. A vigilante não percebeu ou não quis perceber. 

"Seu nome?" Eu disse um falso.
"Pai judeu?" -"não."
"Mãe judia?" - "não." 
"Você é judia?" - "não. "

Ela só percebeu um olhar medroso! 

Fomos as primeiras pessoas que voltamos a Auschwitz vindo de um transporte de trabalhadores. Até agora ninguém acredita que trem tenha outro destino que não seja a câmera de gás. 

A novidade chegou também aos ouvido do dr. Mengele. E tão logo receberiamos sua visita. Ele não podia acreditar que deixou passar duas mulheres grávidas. Ele nos ordenou a ir ao hospital e esperar lá a hora do parto. 

Eu esperei dez dias e logo veio o dr. Mengele me visitar. Ele me ordenou a amarrar meus seios , eu não deveria amamentar meu bebé. 

Meu bebé chorava de fome. Eu mastiguei um pedaço de pão e coloquei na sua boca. Meus seios estavam inchados até o pescoço de leite. Estava abalada com alta febre. 

Todos os dias vinha dr. Mengele se divertir com com meu sofrimento. Depois de oito dias e ele me disse:" amanhã você e seu filho estaram prontos. Eu venho buscar vocês. Eu achava que finalmente eu e meu filho sairiamos desse tormento e a câmera de gás nos ajudaria. Eu chorava e gritava. Estava ciente que no outro dia nos morreriamos. 



Uma estranha sentou do meu lado e tentou me pessuadir. Ela falava e falava." Se acalme, não se desespere, eu vou te ajudar."

As nove horas da noite, quando às luzes foram apagadas ,ela voltou com uma injecção nas mãos. "Der isso a seu filho, é uma alta dosis de morfina, e ele morrerá."

" Eu não posso ser assassina do meu próprio filho."

" Você tem que fazer isso. Eu sou médica e o meu dever é salvar vidas. Seu filho não tem condições para sobreviver. Ele morrerá de fome, ele tem edema. Eu tenho que salvar você, pois estas ainda jovem."

Depois de duas horas de resistência eu já estava tão cansada que o fiz. Eu me tornei uma assassina de criança, dr. Mengele, assassina de bebé!

Eu fiquei histérica. A médica tentava me animar. Meu filho morria ao lado, morria muito lentamente. Eu escutei seu último gemido, seu último suspiro. 

Era as 5 da manhã. Hora do recolhimento de cadáveres. Meu filho foi recolhido e juntos com os outros levado ao crematório. Eu tive que ficar pois era extremamente proibido a entrada no crematório. Somente cadáveres e esqueletos tinham entrada livre.

Pontualmente chegou dr. Mengele. Eu já estava pronta para marchar para morte.

"Onde está a criança? " Cansada lhe respondi :" morreu hoje de madrugada."
"Morreu? Eu quero ver o corpo."

Porem, entre miles de cadáveres , um pequeno corpo de uma criança desnutrida e morta com uma injecção de morfina era até para o dr. Mengele impossível de achar.

Ele só disse:" você teve sorte. Você será levada no próximo transporte para o campo de trabalho.

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